Etosha em 3 dias

O Etosha National Park é a principal game reserve do país, com mais de 22 mil km² de pura e inexplorada vida selvagem. A reserva é listada como um dos 10 melhores locais para fazer safari na África, dada a abundância de vida selvagem e a boa estrutura turística.

Poderíamos fazer um post enorme falando de cada aspecto prático do parque (estadia, tempo recomendado, como chegar, etc), mas recomendamos o Guia Melhores Destinos para isso (https://guia.melhoresdestinos.com.br/etosha-national-park-216-6015-l.html) e iremos nos concentrar em nossa experiência. Para ver nossas dicas gerais sobre organização de um safari/ viagem pela África autônoma, clique aqui.

De forma geral, explorar o Etosha é bem simples. O parque é todo sinalizado com blocos de concreto nos entroncamentos das trilhas, nos quais são escritos os nomes das waterholes ou pontos de observação e a distância até eles em km. Acho importante, especialmente se você tiver pouco tempo, mapear as waterholes de interesse e seguir um roteiro, mas é muito mais divertido se perder e simplesmente seguir uma placa cujo nome tenha chamado a atenção. Programe um tempo para isso!!

Ah, e fique atento nessas placas de concreto. As vezes o animal que você passou o dia tentando ver pode estar literalmente em baixo dos seus olhos!! 😉

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Ache o gatinho. Dica: comece pelo rabo.

Outra dica valiosa é trocar informações sempre que possível com outros viajantes. Sempre que for cruzar com outro carro, especialmente fora das trilhas maiores, diminua a velocidade e pare para conversar sobre o que eles viram, de que direção vieram e se vale ou não a visita. Algumas pessoas não serão tão amigáveis, mas outras terão o maior prazer em compartilhar as experiências. Foi desta forma que encontramos todos os felinos que vimos (eles são os reis da camuflagem, quanto mais olhos procurando, maiores serão as chances de encontra-los). Além disso, nos campings há sempre um livro de registros na recepção, no qual as pessoas dizem horário e local que avistaram animais raros (leia, mas não se esqueça de contribuir!).

Além disso: se você ver mais de três carros parados no mesmo local, pare e pergunte o que estão vendo. Fomos no pico da temporada e, mesmo assim, é difícil ter mais de dois carros parados no mesmo local sem um motivo. Aconteceu de estarmos parados, observando um leão se preparando para um ataque, um outro carro chegar, não perguntar nada, observar o local por 1 minuto e ir embora por não ter visto o animal (novamente, gatos foram feitos para se camuflarem!).

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Tem 3 guepardos na foto!

Os portões do parque abrem ao amanhecer e fecham ao entardecer (eles levam isso muito a sério, então programe-se com folga para entrar e sair sem estresse). Chegamos nos portões de entrada ao nascer do sol e aguardamos em uma fila por meia hora para entrarmos. Confesso que achei que, passada a entrada, a estrada (muito bem asfaltada de Windhoek até lá) se tornaria terra e a paisagem mudaria drasticamente, com uma explosão de vida. Mas a estrada continua de asfalto da entrada do Anderson Gate até as portas do primeiro camping, o Okaukuejo.

Ainda assim, aprox. 10 minutos após nossa entrada, nos deparamos com um lindo rinoceronte cruzando a estrada. Muita sorte, nosso primeiro BIG 5!!! Seguimos para o Okaukuejo, onde existe uma central turística na qual deve ser paga a entrada e onde se pode comprar mapas do parque. Paramos para dar uma olhada na famosa waterhole (poça) do camping, mas quase não haviam animais naquele momento (embora ela seja famosa como ponto de observação de rinocerontes). A estrutura do Okaukuejo é, sem dúvidas, a melhor dentre os campings/hoteis do parque (todos administrados pela NWR), mas não conseguimos ficar nele, já que a reserva precisa ser feita com 5-9 meses de antecedência.

De lá, seguimos para explorar a região entre o sul e o oeste do parque. A primeira parada foi a waterhole Okondeka, que é uma poça menos salgada que as demais e que atrai muita vida selvagem. Lá vimos muitos antílopes, zebras e girafas. Ficamos observando a poça por aprox. 1 hora e seguimos na direção do Dolomite camping, parando no Adamax Pan, onde vimos uma horda gigantesca de zebras, andando do ladinho do carro. Seguimos andando na direção oeste por 1 hora, sem ver mais animais ou outros seres humanos (o que nunca é bom sinal). Havíamos lido que este lado é o menos explorado do parque e que seria possível ver animais de forma mais “privada”. Começamos a duvidar um pouco disso e resolvemos voltar. No caminho de volta, fizemos as waterholes entre Okaukuejo e Okondeka, muitas das quais são poças secas.

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Okondeka: herbivoros aproveitando o momento de paz.

Almoçamos um lanche no restaurante do Okaukuejo e paramos para descansar do sol escaldante na arquibancada da waterhole Okaukuejo, onde haviam variados herbivotos na água. De lá, seguimos andando meio sem rumo, parando e desviando o caminho a cada placa de waterhole (Sueda, Salvadora, Rietfontein) que víamos até nosso camping, o Halali.

A caminho da última waterhole do dia, Rietfontein, encontramos aquilo que eu fui procurar na África: um leão. Na verdade foram duas leoas, lindas, com a boca com marcas de sangue do almoço! Infelizmente observamos elas por 15 minutinhos e fomos embora, com o coração partido, já que estávamos atrasados para a entrada no Halali e corríamos o risco de ficarmos para fora…

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Olha só a barriga cheia do leão, só na leseira.

O Halali, cuja waterhole se chama Moringa, é o maior camping do Etosha e, por isso, o mais fácil de se reservar. A estrutura é bem velha e precisa ser reformada, a área de camping literalmente só cabe o carro (nada da privacidade dos outros campings ao longo da viagem), mas ainda assim é melhor que dormir fora do parque. O lado positivo do camping é a sua poça. A Moringa, por ser muito abaixo do nível do camping, atrai muitos animais e é um território muito frequentado por rinocerontes e elefantes (praticamente 2 BIG5 garantidos ficando lá). O ponto de observação conta com um tipo de arquibancada nas rochas bem bacana e o por do sol é deslumbrante!!! Leve um vinho/cerveja e aprecie o cair da noite e a profusão de animais que visitam o local.

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Moringa: a poça do Halali camp!

O balanço do primeiro dia foi: 2 leões, 3 rinos (1 de dia e 2 a noite na Moringa), aprox. 10 girafas, uma manada de zebras, 2 elefantes e centenas de antílopes de todos os tipos.

No segundo dia, caímos da cama cedinho para pegarmos os portões abrindo, já que felinos são mais ativos ao amanhecer, noite e entardecer. Fomos correndo, literalmente, para a Rietfontein ver se encontrávamos as leoas e … lá estavam elas!! Fica a dica: felinos são territorialistas e gostam de rotina, logo, se você viu ou ouviu falar de um felino em dado local, no dia seguinte a chance de encontrá-lo no mesmo lugar é razoável.

Ficamos um tempo apreciando as lindonas e seguimos para a direção leste do parque, sentido Namutoni (outro camping), até a waterhole Springbookfontein, parando em todas as waterholes e pontos de observação do Etosha Pan no caminho.

Algumas waterholes desse lado do parque são legais, com bastante vida animal mesmo com o sol da metade do dia, como as gêmeas Goas. Outras são uma decepção, sem nem mesmo um antílope. De modo geral não gostamos tanto desta parte do parque, as paisagens são maravilhosas, mais com cara de savana africana do que o resto do Etosha, mas é tudo muito distante e passávamos horas sem ver outro ser humano para pedirmos informações e tivemos a sensação de vermos menos animais. Vale destacar que na natureza cada dia é um dia… pesquisamos bastante sobre os territórios de animais em cada uma das poças, mas a teoria e a prática são bem diferentes… Maneje as expectativas.

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As gemeas Goas! Poça com bastante animais, gostosa de observar.

A parte alta da nossa manhã foi o Etosha Pan. O salar é gigantesco, se expande a perder de vista e, ao longe, é comum ver manadas de gnus ou outros animais. É proibido descer do carro no Etosha, mas a natureza chamou bem no Pan, então, já que estávamos fora do carro mesmo, resolvemos arriscar um pouco.

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A imensidão do Etosha Pan!

 

Próximo da hora do almoço, voltamos na direção do Halali e resolvemos dar uma passadinha para vermos as “nossas” leoas na Rietfontein. No caminho, logo ao lado do Halali, avistamos nossa primeira hiena! Paramos para observá-la e fomos avisando as pessoas que passavam por nós. Em retribuição, um guia de turismo nos indicou que havia visto um leopardo a poucos metros de lá. E começou a nossa saga de encontrar um leopardo…

Entendemos que o animal estava 8km na próxima entrada. Como na referida entrada havia uma sinalização de waterhole a 8km, achamos que o animal estaria na poça. Fomos até lá e nada… andamos, rodamos, fomos e voltamos 3 vezes. Até que, ao desistirmos e voltarmos para a estrada principal, vimos alguns carros parados bem na placa dos 8km. Quando nos aproximamos, percebemos que o leopardo estava DENTRO da placa!!! Gatos sendo gatos…

Ficamos lá, parados, na expectativa dele acordar e sair da placa. Era quase 13:00 e estava muito calor, sem duvida nenhuma mais de 40°C. Paramos no sol, do ladinho da placa e lá ficamos por quase 2 horas! Muitos carros iam e vinham, paravam, esperavam 20 minutos e iam embora, mas nós e mais 2 carros ficamos lá firmes e fortes. Passadas as 2 horas, resolvemos comer e tomar água. Fiquei com coração partido de deixar o leopardo. Aquela sensação de que quando eu virasse as costas ele sairia de lá…

Fomos para o Halali e pegamos um lanche no restaurante. Rafa, que me conhece bem, percebeu meu descontentamento e propôs de comermos no carro e voltarmos no leopardo. Aquele medo de chegarmos lá e não vermos mais carros na estrada foi sanado logo de cara, de longe era possível ver a aglomeração de pessoas em torno do gato. Chegamos, estacionamos (conseguimos uma vaga pior que a que tínhamos, mas ok) e, TRINTA SEGUNDOS DEPOIS (nem havíamos desligado o motor), O LEOPARDO ACORDA E SAI… NA NOSSA DIREÇÃO!!!!!! Sério, foi um momento impagável, simplesmente mágico! Fiquei tão eufórica que nem conseguia ligar a câmera! Um dos meus momentos favoritos dentre todas as nossas viagens.

Ele caminhou ao lado do carro e subiu na árvore ao lado da estrada principal e ficou lá, pousando para fotos! Infelizmente, uns 15 minutos depois, começou um vento forte e um chuvisco de verão e ele foi se esconder no mato.

De lá, voltamos para o Halali para pegar mais água e, ao chegarmos, ouvimos uns sons altos vindos da poça. Fomos correndo loucamente e nos deparamos com uma manada de elefantes lindões.

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Bando grande de elefantes no Halali!

Apreciamos um pouco e decidimos ir dar um tchau para as nossas leoas. Chegando lá, mais emoção: a menor, provavelmente a mais jovem, estava em posição de caça, toda escondidinha. Logo ao lado uma familia grande de gazelas e dois Oryx desavisados que andavam tranquilamente em direção à leoa!!! Ela ficava olhando para a leoa maior, que estava deitadona, tranquila. Ela ficou nessa de quase atacar a menos de 10 metros do Oryx até o momento que tivemos que ir embora…

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Leao escondido e Oryx sem noção!

Nesta noite, contratamos um safari noturno no Halali. O safari tinha 3 horas de duração e partia as 8 da noite. Que decepção! O carro foi a 5 km/h, parando a cada centopéia na estrada, LITERALMENTE. Fizemos em 3 horas o trajeto do Halali até Rietfontein, distância que percorríamos de dia em menos de 20 minutos, e sem correr!!! Foi muito frustrante e irritante! No fim, começou a ventar muito, muito mesmo, e a temperatura despencou… passamos muito frio ainda por cima! Vimos um rinoceronte em Rietfontein, dois rinocerontes em Salvadora e 3 hienas de relance nos portões do Halali… Novamente, é uma questão de sorte ou azar, demos azar (não deu nem para reclamar depois de tanta sorte de dia).

O balanço do segundo dia foi: 1 leopardo, 2 leões (os mesmos do anterior, mas tá valendo), 3 rinos, 4 hienas, aprox. 20-30 girafas, algumas manada de zebras e ghinus, uma família de elefantes e centenas de antílopes de todos os tipos. Ou seja, demos a sorte de vermos 4 dos 5 BIG5 em um dia! Vale citar que não há bufalos no parque!

Na manhã seguinte, hora de partirmos. Acordamos cedinho, passamos de Rietfontein para darmos tchau para nossas leoas. Desta vez elas não estavam lá… Masssss, no meio do caminho, logo após passarmos por Salvadora, quando nem estávamos mais atentos a animais, um carro a nossa frente freou bruscamente. Ao olharmos para frente, nos deparamos com 4 guepardos deitados tomando sol na estrada. Eles nem se incomodaram conosco e os 3 filhotes adolescentes começaram a brincar, correr, miar e fazer gracinhas… um presente de despedida do Etosha para nós.

Como considerações finais, é preciso destacar que o Etosha tem motivos de sobra para sempre estar listado nos top 5 locais para fazer safari na África! A estrutura dos campings deixa a desejar, mas as trilhas são muito boas, a sinalização facilita muito a vida e o parque tem  a concentração ideal de pessoas mesmo no pico da alta temporada. Além disso, por ser uma reserva em um país cheio de desertos e já bastante civilizado (diferentemente da Botswana, que basicamente é composto só por reservas), os animais se concentram no Etosha e permitem que 4 dos BIG5 sejam vistos em um dia!

Ah, e saindo um pouco do tema, a meio caminho entre o Etosha e Rundu existe uma atração turística interessante para dar uma paradinha: o METEORITO HOBA. Ele é enorme, sendo o maior da Terra!!!! Estima-se que pese cerca de 65 toneladas e nunca foi motivo do local de onde caiu. É bem legal poder tocar um objeto que veio do espaço!

3 comentários sobre “Etosha em 3 dias

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