Áustria: Mauthausen

Uma das grandes vantagens de viajar de carro é a flexibilização do roteiro, o que  permite não apenas mudar os planos com mais facilidade como também conhecer lugares “fora da rota” comum – o que enriquece muito a viagem em termos culturais e torna a experiência ainda mais única.

Eu, Camila, sempre fui apaixonada por história e literatura, o que me levou a ler vários livros maravilhosos que trazem a guerra como plano de fundo (vide A menina que roubava livros, O diário de Anne Frank, Os catadores de conchas, dentre outros).

Aliando a comodidade do carro com essa paixão, não tinha como ir para a Áustria e não conhecer um campo de concentração. O escolhido, pela importância e proximidade com nossa rota original, foi Mauthausen (ou Mauthausen-Gusen).

O campo fica bem próximo de Linz e a duas horas de Viena, na direção de Munique e Salzburg. Durante a dominação nazista da região, o campo transformou-se em um dos maiores complexos de trabalhos forçados da Europa. O campo foi construído por prisioneiros, deslocados do campo de Dachau para este fim, e fica localizado acima de uma grande pedreira, na qual os judeus e outros prisioneiros eram obrigados a trabalhar até a exaustão completa. Mauthausen foi o último campo de concentração a ser libertado pelas tropas aliadas ao final da guerra e um dos que mais causou a morte dos internos.

Voltando a nossa visita, chegamos no campo por volta das 10:00 da manhã, sem maiores dificuldades. O ingresso tem o preço simbólico de 2 euros, mas por termos ido em dia de semana, não precisamos pagar nada (não sei se é sempre assim ou se a entrada foi gratuita devido a estarmos fora de temporada). Ganhamos um guia do complexo, com as informações de cada um dos prédios e optamos por comprar um audio-book (não disponível em português, mas que vale muito a pena se você arranha o inglês). Acabamos pegando um para cada (10,00  euros cada), mas apenas um para o casal já teria bastado.

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Portão principal de entrada do campo.

O campo em si é bastante sanitizado, muito limpo e restaurado. Eu tinha lido a respeito disso antes de partir, algumas pessoas acham que o ambiente foi limpo demais e acabou se descaracterizando, mas eu discordo. O local realmente parece que não é real, mas não pela limpeza e pinturas recém-aplicadas, mas pela sensação de vazio que paira no ar.

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O campo, vazio.
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Dormitórios, ainda com a mobília original.

Acho que o fato de termos ido no inverno e em um dia no qual haviam mais umas 10 pessoas apenas no local contribuiu para essa sensação, mas acho que não apenas. O local realmente tem uma atmosfera pesada, especialmente no subsolo, onde é possível ver os fornos usados para cremação dos corpos e, principalmente, na câmara de gás, mantida intacta.

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Entrada para o crematório e câmara de gás.

Ainda no subsolo, há duas salas com os nomes das pessoas que perderam suas vidas no campo e mensagens de suas famílias. Depois de dois locais tão carregados, a sala das homenagens dá uma suavizada no clima.

Outra parte fundamental da visita é a pedreira, na qual os prisioneiros eram obrigados a trabalharem. As pessoas eram obrigadas a descerem até a pedreira, pegaram as pedras e as trazerem para cima, descalços, subindo a pior escadaria que já vi. Muitos perdiam o equilíbrio ao pisarem um uma pedra solta ou devido a exaustão completa e acabavam caindo, levando consigo as pessoas que vinham atrás (o que causava a morte de muitas delas). Por ser inverno e o clima estar úmido, a descida estava proibida quando visitamos, mas na foto abaixo dá para ter uma idéia de quão imensa e íngreme é a escadaria.

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As terríveis escadarias da pedreira.

No total, nossa visita durou aprox. duas horas e meia e, apesar da sensação amarga que permaneceu por algumas horas depois, recomendo muito conhecer o local e aproveitar para refletir um pouco sobre essa parte vergonhosa da história.

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Monumento em homenagem às pessoas que perderam suas vidas na pedreira  =_(